sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Confissões de uma mesa de café #2

Se essas xícaras de café pudessem falar...

Tantas histórias, infinitos babados, diversos acordos e estranhamentos elas guardam. Cada cliente é único, assim como cada momento que eles passam aqui. Um cafezinho pode estragar ou fazer o dia de alguém. Derramou o café na mesa? Eita ferro, lascou! Seu amigo pagou a conta? Uma fofura da parte dele, não é? Seu café tá frio? Uhm, pede para trazerem outro. Não dormiu nada? Pede um Hario V60 que você acorda rapidinho.

Um casal por volta dos 30 anos chega. Escolhem a mesa perto da janela. Podem ver as pessoas passeando, as crianças brincando e as árvores balançando com o vento. Porém, eles estão nem aí. Estão mais interessados um no outro. Namorados? Encontro do Tinder? Peguete? Booty call? Colegas de trabalho? Amigos de infância? Não consegui decifrar ao certo.

Os dois pedem a mesma coisa para beber - cappuccino com sorvete de ovomaltine. Bem diferente, né? Parece que eles têm muito assunto para colocar em dia. Ela é paulista, mas mora há 5 anos em Brasília. Ele, aparentemente, veio de outro lugar também, acho que é do Goiás. Recentemente separada, ela tem uma nova vida. Ela faz todo um panorama sobre como ela era apaixonada por esse cara, ficaram 7 anos juntos, ela era bem novinha, e ele destruiu com a sua alma. Humilhação faz a gente perder a confiança em qualquer pessoa, né? Mas o mais incrível é que ela transforma toda essa história em força e perseverança. Eu me arrepiava ao ouvir cada coisa mais louca que a outra. E com o tempo ela foi mostrando como o amor e a sua fé moldaram a pessoa que ela é hoje. Aprendeu bastante e viu coisas maravilhosas e fenomenais acontecendo em sua vida.

O cara fez várias perguntas e quase não se abriu. Às vezes, esse era o momento dela. O momento de ela ser ouvida e acariciada. Ele pagou o cappuccino dos dois e acho que esse é o início de uma fase surpreendente na vida dela. Espero ouvir outras histórias por acaso. 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Confissões de uma mesa de café #1


Cafés e bistrôs são ambientes que permitem que amigos se encontrem, entrevistas sejam feitas, estudantes façam suas leituras, tradutores trabalhem e publicitários sejam criativos. São lugares que as pessoas podem se soltar e conversar sem se preocupar muito com a forma que se portam.

Uma das coisas que me fascina é que os perfis e esteriótipos dos frequentadores de café nunca deixa de me surpreender. Quando a gente acha que já viu, e ouviu de tudo, é aí que a gente descobre que há um mundo de indivíduos singulares, esquisitos e sem noção.

Estou aqui fazendo minhas atividades, conversando com os amigos nas redes sociais, revisando e traduzindo...e não consigo me concentrar por causa de duas pessoas - uma interessante, a outra chata - que estão sentadas à minha esquerda.

A entrevista começou com a senhora fazendo perguntas ao rapaz. Ela perguntou-lhe que matérias ele estava cursando na UnB e que línguas ele já dominava. Esse rapaz de uns 20 anos parecia que queria impressioná-la, mas toda vez que ele tentava, ela retrucava. Sem êxito a entrevista com perguntas diretas perdurava.

A senhora loira, tipicamente dondoca e elitizada, não quis sentar na parte estofada assim que chegou. Disse que fazia ela se sentir mal. Pode até ser verdade, mas a maneira como ela falava parecia que não queria se sentar perto de mim. Bem, acredito que o banco é bem mais confortável do que a cadeira que ela escolheu. O rapaz que está com ela tem uns dreadlocks muito da hora, mas ele parece ser meio atrapalhado, talvez tenha puxado muito beck, não sei, talvez fosse o nervosismo da entrevista, primeiro emprego, será?

Com seu jeito autoritário e rude, ela manda e desmanda nesse rapaz, mal o deixa terminar suas frases e finge prestar atenção no que ele diz. Ele come sua tartelete de morango, e comenta sobre produção de geleias artesanais enquanto ela responde mensagens no whatsapp e olha seu facebook. Tudo que ele fala está errado, no ponto de vista dele. Como se não bastasse ser ignorante, ela trata o garçom, que é super solicito e simpático, como se tudo que desse errado nesse chá da tarde com o filho dela.

Sim, ele é filho dela. Não, não é entrevista para uma vaga de emprego na empresa da família. É um encontro para mostrar para a família que eles estão tentando se reconectar. Parece que ela o convenceu com a frase "seu pai vai ficar muito feliz" sobre a noite de Natal. Pediu a conta, passou o cartão e a máquina não funcionou. - Bem feito. - ele disse mentalmente. O garçom bonzinho traz outra máquina, e ao som de alguma música do Maroon 5, ele pergunta se ela quer a via dela. E assim vão embora, ela mandando e desmandando nesse marmanjo mais perdido do que cachorro em dia de mudança. E a vida segue. Vou pedir mais um cafézinho.