segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Confissões de uma mesa de café #1


Cafés e bistrôs são ambientes que permitem que amigos se encontrem, entrevistas sejam feitas, estudantes façam suas leituras, tradutores trabalhem e publicitários sejam criativos. São lugares que as pessoas podem se soltar e conversar sem se preocupar muito com a forma que se portam.

Uma das coisas que me fascina é que os perfis e esteriótipos dos frequentadores de café nunca deixa de me surpreender. Quando a gente acha que já viu, e ouviu de tudo, é aí que a gente descobre que há um mundo de indivíduos singulares, esquisitos e sem noção.

Estou aqui fazendo minhas atividades, conversando com os amigos nas redes sociais, revisando e traduzindo...e não consigo me concentrar por causa de duas pessoas - uma interessante, a outra chata - que estão sentadas à minha esquerda.

A entrevista começou com a senhora fazendo perguntas ao rapaz. Ela perguntou-lhe que matérias ele estava cursando na UnB e que línguas ele já dominava. Esse rapaz de uns 20 anos parecia que queria impressioná-la, mas toda vez que ele tentava, ela retrucava. Sem êxito a entrevista com perguntas diretas perdurava.

A senhora loira, tipicamente dondoca e elitizada, não quis sentar na parte estofada assim que chegou. Disse que fazia ela se sentir mal. Pode até ser verdade, mas a maneira como ela falava parecia que não queria se sentar perto de mim. Bem, acredito que o banco é bem mais confortável do que a cadeira que ela escolheu. O rapaz que está com ela tem uns dreadlocks muito da hora, mas ele parece ser meio atrapalhado, talvez tenha puxado muito beck, não sei, talvez fosse o nervosismo da entrevista, primeiro emprego, será?

Com seu jeito autoritário e rude, ela manda e desmanda nesse rapaz, mal o deixa terminar suas frases e finge prestar atenção no que ele diz. Ele come sua tartelete de morango, e comenta sobre produção de geleias artesanais enquanto ela responde mensagens no whatsapp e olha seu facebook. Tudo que ele fala está errado, no ponto de vista dele. Como se não bastasse ser ignorante, ela trata o garçom, que é super solicito e simpático, como se tudo que desse errado nesse chá da tarde com o filho dela.

Sim, ele é filho dela. Não, não é entrevista para uma vaga de emprego na empresa da família. É um encontro para mostrar para a família que eles estão tentando se reconectar. Parece que ela o convenceu com a frase "seu pai vai ficar muito feliz" sobre a noite de Natal. Pediu a conta, passou o cartão e a máquina não funcionou. - Bem feito. - ele disse mentalmente. O garçom bonzinho traz outra máquina, e ao som de alguma música do Maroon 5, ele pergunta se ela quer a via dela. E assim vão embora, ela mandando e desmandando nesse marmanjo mais perdido do que cachorro em dia de mudança. E a vida segue. Vou pedir mais um cafézinho.